sábado, dezembro 06, 2008

os segredos do sono

aos poucos. como se o dia não quisesse acordar. o amanhecer a queimava a noite e desenhava no céu os contornos de uma chama numa folha de papel. lentamente o sol a abrir-se sobre nós. a arder na pele exausta. a luz a mover-se ordeiramente nas paredes da sala. na lareira a cinza quase morta estala os últimos suspiros acendidos da noite acabada. os nossos corpos encolhidos um no outro. nos meus braços tenho fechados os teus sonhos. acordo. encosto a minha boca ao teu ouvido: vives dentro de mim. o som não te perturba. ainda quieta pedes: repete. vives dentro de mim. rodas sobre ti como uma criança que descobriu o que sempre imaginara. olhaste-me. com os teus olhos de luz. com os teus olhos de quem vive porque sonha na lucidez de ter o coração aceso. olhos nos olhos estou nu. passas a mão na minha cara como se dissesses sem saber esperei tanto tempo por ti. falei tanto sem saber que as palavras eram para ti. sorri tanto sem saber que eras quem eu trazia na minha alegria. o dia chega. olhos nos olhos. eu ainda a ouvir esperei tanto tempo por ti. o tempo sem ti a eternizara-se nos meus dias. como se te tocasse e tu não sentisses. dei-te todas as palavras. transformei-te nas minhas palavras. os teus olhos estavam enterrados no meu corpo. vives dentro de mim. e olhos nos olhos pediste-me para repetir. vives dentro de mim.

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