Ela: como dizes que sou o teu destino?
Ele: nasceste aqui. nas letras do teu nome, nas palavras que tirei da minha solidão. não tenho passado, nem biografia. a minha escrita é um rumor da tua ausência. a minha escrita é a rejeição do caos e do frio. e de todas as emoções que apenas os sozinhos decifram. és a minha escrita e todo o pavor a esvair-se no esquecimento de descobrir nos espelhos o demorado prazer de saber o nosso destino. tu és o meu destino a nascer como se amar-te fosse ter alguém dentro de mim a contar-me um sonho. alguém dentro de mim.
Ela: mas amar é acreditar em algo que não se vê. como é que sabes? Como que é que sabes que não passo de uma criação das tuas próprias palavras?
Ele: tu és uma gota.
Ela: não fazes sentido!
Ele: sabes, parece que passei tempo de mais submerso e recolhido entre lugares sem ninguém e após algum tempo começamos a sofrer uma espécie de privação sensorial. as pessoas tornam-se estranhos cujos rituais rejeitamos. mas depois surgiste tu. e vejo o sangue, as vísceras, a carne. surgiste tu e aprendi a fechar os olhos para te ver, para conhecer a luz que se desenha para quem perde o medo. o medo de fechar os olhos e ver além do negro total e dos pequenos pontos brancos que se acumulam agitadamente sobre o denso escuro. perdi o medo de quem não fecha os olhos, de quem julga que o dia se deita sempre no mesmo sítio. e é ali onde muitos desconhecem a história por detrás do medo que me ensinaste a invocar a vida. mesmo que não te apercebas. pior. mesmo que não queiras. mesmo que te perguntes se é contigo que eu falo. mesmo que não percebas porque me dirijo a ti.
Ela: sim, porquê eu? não passo de uma fábula que criaste. não me conheces verdadeiramente...
Ele: sim, uma fábula verdadeira. desde que pousaste nas minhas mãos e que todas as palavras me passaram a falar de ti que és uma fábula verdadeira. uma criação impossível pintada de letras contrárias encruzilhadas num tempo redondo. mas eu gosto de me bater com adversários invisíveis. e tu és mais um deles. reúnes em ti tudo o que existe e tudo o que não existe. és uma encruzilhada um enigma esculpido entre as sombras do silêncio das estrelas. o adversário mais anónimo que já tive. desde o tempo em que miúdo montava armas de papel e refúgios secretos de almofadas. passava dias naquele mundo. e aquele mundo tornava-se todo o mundo sem limites, todos os dias a serem aquele mundo e aquele mundo a ser todo o tempo dos meus dias. hoje. amo-te. sem que saibas. antes num pudor cintilante que me impede de te berrar o teu nome. e passo os dias neste processo de fingimento reduzindo-te a palavras. e por isso te mantenho assim: rudimentar, perfeita e absolutamente indecomponível.
Ela: mas tu falas comigo, escreves-me... como podes dizer que eu não sei de ti?
Ele: apenas te quero para sempre... como o eco da mais alta montanha a rasgar os mais estreitos caminhos. amo-te preciso de ti nesta vagarosa fantasia que é a eternidade.
Ela: percebes que fazes pouco sentido? assustas-me... o fervor que dizes sentir não é amor! é uma espécie de loucura, ou uma vontade cruel de tudo querer conhecer...
Ele: sim. sem dúvida! uma loucura que me faz voar contra o céu, que me faz mergulhar no fundo mais quieto dos oceanos, que me faz escrever o teu nome repetidamente até ao último resíduo de luz nas paredes. se querer conhecer os teus segredos é estar louco, pois que seja. que me alucinem os murmúrios do interior da terra, as vozes inconsoladas dos mortos, os corpos lentos e desequilibrados dos fantasmas, as luzes todas de sempre num filamento eterno nos meus olhos. se tudo isso junto de uma só vez durante todas as vidas me abrir o corpo para uma carícia tua justifica-se a loucura. se um olhar teu justificar todas as páginas brancas, todas as noites em monotonia de sono pois que criem essa ponte de silêncio. chamem-me louco. mas depois de ti cada sílaba vibrará sempre na certeza de que tu sabes que existe este amor.
Ela: não consigo perceber...
Ele: eu quero-te. mas se achas que por isso sou louco então viverei apenas do meu silêncio e das palavras que imagino que recebes. num sopro. num longo distante e melancólico sopro de quem também tem medo de saber se há mesmo vida para lá do sentir sombrio do sangue. tu chegaste assim: encantada. desdobrada em cintilantes esgares de mistério e subtilezas. chegaste e arrancaste-me de um pesadelo real. tão real. com a tua opulente respiração sussurraste-me "esquece as feridas". hoje tenho o sono ileso e em torno dele o som de uma vida a nascer como pele nova a cada madrugada. hoje sei rir ao rosto da lua e beber a seiva de sal de cada horizonte. por ti.
Ele: nasceste aqui. nas letras do teu nome, nas palavras que tirei da minha solidão. não tenho passado, nem biografia. a minha escrita é um rumor da tua ausência. a minha escrita é a rejeição do caos e do frio. e de todas as emoções que apenas os sozinhos decifram. és a minha escrita e todo o pavor a esvair-se no esquecimento de descobrir nos espelhos o demorado prazer de saber o nosso destino. tu és o meu destino a nascer como se amar-te fosse ter alguém dentro de mim a contar-me um sonho. alguém dentro de mim.
Ela: mas amar é acreditar em algo que não se vê. como é que sabes? Como que é que sabes que não passo de uma criação das tuas próprias palavras?
Ele: tu és uma gota.
Ela: não fazes sentido!
Ele: sabes, parece que passei tempo de mais submerso e recolhido entre lugares sem ninguém e após algum tempo começamos a sofrer uma espécie de privação sensorial. as pessoas tornam-se estranhos cujos rituais rejeitamos. mas depois surgiste tu. e vejo o sangue, as vísceras, a carne. surgiste tu e aprendi a fechar os olhos para te ver, para conhecer a luz que se desenha para quem perde o medo. o medo de fechar os olhos e ver além do negro total e dos pequenos pontos brancos que se acumulam agitadamente sobre o denso escuro. perdi o medo de quem não fecha os olhos, de quem julga que o dia se deita sempre no mesmo sítio. e é ali onde muitos desconhecem a história por detrás do medo que me ensinaste a invocar a vida. mesmo que não te apercebas. pior. mesmo que não queiras. mesmo que te perguntes se é contigo que eu falo. mesmo que não percebas porque me dirijo a ti.
Ela: sim, porquê eu? não passo de uma fábula que criaste. não me conheces verdadeiramente...
Ele: sim, uma fábula verdadeira. desde que pousaste nas minhas mãos e que todas as palavras me passaram a falar de ti que és uma fábula verdadeira. uma criação impossível pintada de letras contrárias encruzilhadas num tempo redondo. mas eu gosto de me bater com adversários invisíveis. e tu és mais um deles. reúnes em ti tudo o que existe e tudo o que não existe. és uma encruzilhada um enigma esculpido entre as sombras do silêncio das estrelas. o adversário mais anónimo que já tive. desde o tempo em que miúdo montava armas de papel e refúgios secretos de almofadas. passava dias naquele mundo. e aquele mundo tornava-se todo o mundo sem limites, todos os dias a serem aquele mundo e aquele mundo a ser todo o tempo dos meus dias. hoje. amo-te. sem que saibas. antes num pudor cintilante que me impede de te berrar o teu nome. e passo os dias neste processo de fingimento reduzindo-te a palavras. e por isso te mantenho assim: rudimentar, perfeita e absolutamente indecomponível.
Ela: mas tu falas comigo, escreves-me... como podes dizer que eu não sei de ti?
Ele: apenas te quero para sempre... como o eco da mais alta montanha a rasgar os mais estreitos caminhos. amo-te preciso de ti nesta vagarosa fantasia que é a eternidade.
Ela: percebes que fazes pouco sentido? assustas-me... o fervor que dizes sentir não é amor! é uma espécie de loucura, ou uma vontade cruel de tudo querer conhecer...
Ele: sim. sem dúvida! uma loucura que me faz voar contra o céu, que me faz mergulhar no fundo mais quieto dos oceanos, que me faz escrever o teu nome repetidamente até ao último resíduo de luz nas paredes. se querer conhecer os teus segredos é estar louco, pois que seja. que me alucinem os murmúrios do interior da terra, as vozes inconsoladas dos mortos, os corpos lentos e desequilibrados dos fantasmas, as luzes todas de sempre num filamento eterno nos meus olhos. se tudo isso junto de uma só vez durante todas as vidas me abrir o corpo para uma carícia tua justifica-se a loucura. se um olhar teu justificar todas as páginas brancas, todas as noites em monotonia de sono pois que criem essa ponte de silêncio. chamem-me louco. mas depois de ti cada sílaba vibrará sempre na certeza de que tu sabes que existe este amor.
Ela: não consigo perceber...
Ele: eu quero-te. mas se achas que por isso sou louco então viverei apenas do meu silêncio e das palavras que imagino que recebes. num sopro. num longo distante e melancólico sopro de quem também tem medo de saber se há mesmo vida para lá do sentir sombrio do sangue. tu chegaste assim: encantada. desdobrada em cintilantes esgares de mistério e subtilezas. chegaste e arrancaste-me de um pesadelo real. tão real. com a tua opulente respiração sussurraste-me "esquece as feridas". hoje tenho o sono ileso e em torno dele o som de uma vida a nascer como pele nova a cada madrugada. hoje sei rir ao rosto da lua e beber a seiva de sal de cada horizonte. por ti.
8 comentários:
Não consigo dizer mais nada que não seja que escreves cada vez melhor. E não me refiro apenas a este texto mas a todos os que tens escrito. MUITOS PARABÉNS!
Obviamente que subscrevo o que foi dito.
P.S.- Vê lá se dás sinais de vida real/material.
MA
sim senhor! novo ar no blog... está mais adulto!! já não tem aquele ar de bambi perdido na floresta! gosto particularmente da foto... és tu? ahahahahahah, mas diz muito... livros e mulheres! Só falta o álcool, oh bukowski ainda mais feio!!! :-D
Olá A.S.
Assim SIM!
Arrepiei-me bem perto do fim.
Muito bom, a fazer-me lembrar o primeiro post teu que li.
Beijo
Stella
Da próxima vez que decidires escrever um post pensa nisto: só aqueles em que se percebe o que queres dizer é que são comentados!
1- gracias!
2- vou dando não te preocupes.
3- mais feio, com menos cabelo e sem o charme.
4- Stella, obrigado e de facto os meus textos falam sempre do mesmo. :-)
5- debruçar-me-ei com devotado afinco sobre essa observação. muito obrigado pelo teu contributo.
"eu quero-te. mas se achas que por isso sou louco então viverei apenas do meu silêncio e das palavras que imagino que recebes. num sopro."
Lindo!
:-)
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