O homem sonâmbulo: Al Berto

Mudaste de casa
e nos filmes
saltavas repentinamente sempre com gestos lentos e densos.
Por entre os teus dedos
levemente adocicados
escorriam as noites sem tempo
e os desenhos das sereias que nos trepidam a cabeça.
Dormias com a boca surda
encostada
à espessura vegetal de todos os rostos
que desciam as montanhas que magicamente
construiste nas paisagens de astros e cometas
que teimavas em relatar.
Falaste de sexo branco eunucos criaturas doentes pestes
amor ruas nuas álcool cores sons e aromas desconhecidos.
Voltavas à memória perdida inventavas nomes
e davas objectos para que a voz se fizer perceber.
Habitaste uma treva funda
onde as mãos tremeram em esgares mansos
de quem soube a criação do mundo.