segunda-feira, junho 30, 2008

Caro Data Vermibus

Não te amo. Olho em redor e tento lembrar-me do meu nome
Sei que sempre esperei que surgisses
(na minha boca)
como o relato do nome de um amigo em fila de espera
quando a solidão me turvava o rosto de lágrimas.
Nunca fui teu. Nem quando te abria os braços
e te esperava para me encheres a cama
de sons quase limpos onde me abrigava do futuro.
Desculpa. Fomos uma sensação fria nos meus dedos
naufraga loucura visão de corpos pouco coerentes
caras incendiadas a tremerem de delírio
na vertigem galopante das viagens
em que bordávamos os corpos. Um o do outro.
Falta-me hoje tempo. Como sempre o tempo.
Soro que me adormece devagar para lá
das epidemias e do esquecimento sem regresso. O tempo.
Desejo nas veias as feridas da memória
como um presságio decalcado no meu silêncio definitivo.
Parto para sempre. Crê. Não tenho tempo para escrever-te mais
aproveito então este vácuo denso cicatrizado lento para
te deixar o mais profundo segredo:
toda a desolação que tenho vivido.

Quase nada. Acabo por dizer-te quase nada.
Como quem parte só porque o desejo de partir se torna insustentável.
Viverei em imensos mares
de paisagens negras entre fotografias de corpos sem peso.
Parto agora que desabei sobre todos os mapas
e que a incerteza me trespassa com o seu roncar surdo.
Parto agora
para não acabarmos cadáveres de saudade.

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