Quando era criança demorava muito tempo a adormecer. Aprendi a conhecer a escuridão que tinha enterrada dentro de mim. Uma cova funda, negra como uma sepultura cavada no interior do mundo. Durante a noite todo o céu é igual. Como se os nossos olhos fossem dois buracos ocos. Um longo manto suja a luz do dia. O silêncio ganha as formas que o medo assume. Os instantes são longos, demorados e frios como o mármore que enfeita a casa com os restos dos mortos. Não há música, nem pessoas ocupadas nos passeios. Estive anos sempre assim. A pintar um sol imaginário. Sem adormecer. Chorava por não dormir. Por só conhecer o frio da madrugada e os primeiros instantes do dia.
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