segunda-feira, outubro 05, 2009

água parada

inútil
a voz
sossegada no ar; útil
um
coração supurado
que separa dos lábios
as palavras pequenas
do medo.

essa distância cicatrizada
da impossibilidade : livre
como dantes. livre.

revoluções inventadas
e tu. dobras de roupa e
outras metáforas. sossego e rio
na eternidade fabulada
das interrogações.

mortos que vivem na sombra
do seu silêncio. vivos-mortos
que se dizem sombra ocupada
em sexo entornado de rugas de amor.

esticas as veias projectas para longe
a ilusão de mergulhar devagar
sobre um céu pousado na parede
do aqui e do agora. essa distância
confortável. o ombro de um velho amigo.

bêbedo imaginário de peito cortado
sem dar conta. tardes lentas paralelas ao mar
e pescadores quase perdidos a comerem o ar.

vento que nos golpeia e derrota. dedos frios
feridas ardidas sem o teu perfume. como se rasga
sem morrer o coração. como se ouve sem morrer
a mais lenta asa do mais vazio dos anjos?

o rumor da tua boca a abraçar em súplica os meus dedos
como se espreitasses sobre o muro onde repousam todas
as pequenas dúvidas. água parada, braços invisíveis
búzios calados, ossos furados, corpo esmagado
por dentro.

1 comentário:

.l disse...

a distância confortável não é a do ombro amigo, mas a do outro lado do muro...