terça-feira, dezembro 16, 2008

enquanto rodopiavas lentamente a tua saia de estrela em estrela

como em amor de primeiro dia
temos os gestos sonolentos que se perdem em olhares
de risos rasgados recortados na ficção quase nocturna
de ganharmos à memória as feridas resfolegadas
dos murmúrios das sombras dos outros corpos. corpos
passados. apagados. decepados. corpos que já não temos
mas que ainda somos. corpos que ainda visitamos
nos sonhos sôfregos de quem saboreou o doloroso ardor
do próprio sangue espalmado a sair-lhe pela boca de quem conheceu
a dor do mundo a alastrar-se na própria respiração. corpos
que foram as letras indecisas de outro tempo. corpos
que foram nossos em cima da mesa. no chão. na rua. corpos espessos
pronunciados e desejados por palavras adolescentes desde da raiz de toda a força.
como em amor de primeiro dia
delicadamente julgamos perder esses corpos no deserto
dorido das memórias sem esperança. despejamos os corpos passados
no encantamento das novas constelações e percebemos
que já não tremem as sílabas dos seus nomes. reaprendemos a andar. recuperamos a fala.
penduramos a felicidade nos dentes e fechamos os corpos antigos no baú
como se tivéssemos na ponta dos dedos o hálito e a luz batida
de controlar a ordem central de todas as coisas.
como em amor de primeiro dia
desamarramos a dor e abrimos outra boca
que nos aumenta o mundo.

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