sábado, novembro 15, 2008

"wild men who caught and sang the sun in flight"



E arderíamos no fim dos dias. Num séquito receoso há-de a fantasia desenhar o saber e assim deixar que os teus dedos orvalhados reparem nos olhos solitários de quem pousa nas terras cinzentas das mais altas montanhas. E lá sentados seríamos o falcão que trespassa as sombras trémulas dos invernos. E lá sentados tudo teria valido a pena. Estaríamos no meio de alguma coisa sobre nós: sobre ti e sobre mim. E lá tudo pareceria um sorriso rasgado, o universo arrumado num grito de muitos anos: amo-te! E a inquietação que nunca nos deixara a transformar-se em lençóis de água sobre as cabeças levantadas de quem nunca sonhou. Uma espécie de perfeição. Uma perfeição de crianças às gargalhadas, de crianças aos gritos de brincadeiras da mais fácil compreensão. Uma perfeição de envergonhada loucura. De desenhos da tua cara nas folhas dos cadernos. E o teu nome. O teu nome nas paredes dos prédios, o teu nome em todos os esgares que sempre procurei. O teu nome escrito nas pequenas manchas de cal de todas as ruas. O teu nome a ser a luz quebrada das esquinas sem ninguém. O teu nome a encher-me, sem luta, de oxigénio. O teu nome nos meus pulmões, nos meus olhos, na minha boca. O teu nome fechado nas minhas mãos. O teu nome nos meus dedos a ser escrito em todas as palavras que conheço. O teu nome a ser o ritmo lento de todo o amor, a ser o tempo complacente com o pó dos anos, a ser o desejo em cada poro de pele. O teu nome a ser o sol a rebentar todos os dias sobre esta forma decidida de querer viver. O teu nome a ser o caminho para as entranhas áridas do mundo subterrâneo, o teu nome a ser o dínamo do próprio mundo, o teu nome a ser um arrastado medo para uma oportunidade de felicidade, a ser as noites mais negras em todas as terras mais secretas. O teu nome a ser um relâmpago dos senhores da vida arrastado na lentidão do meu comprimento. A ser o íntimo fervor dos marinheiros. E arderíamos no final de cada dia.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tenho uma amiga fiel visitante deste blog que em boa hora fez o favor de mo indicar. Confesso que cheguei aqui cheio de ideias concebidas. Abunda na internet muito lixo cheio de presunção. Não que a minha amiga não mereça consideração, mas nisto da poesia (e é disto que aqui se fala) é sempre perigoso acreditar em alguém. Quero apenas deixar-lhe o meu testemunho e dizer-lhe que é muito raro encontrar nos blogues tanta qualidade e quantidade de escritos como quem por cá passa tem o verdadeiro privilégio de ler. E só posso na verdade elogia-lo também por dispensar do seu tempo para partilhar connosco todo este seu "fervilhar". Muitos parabéns.

Anónimo disse...

Finalmente uma referencia a um bom filme neste blog...
chouriça

A.S. disse...

João, obrigado pelas palavras mais do que simpáticas.

Chouriça, meu amor, eu só vejo bons filmes. Este, por acaso, é um deles. Está aqui numa pilha juntamente com outros ilustres, tais como o "Último Rei da Escócia" e um sobre o Dylan Thomas (com Sienna Miller e Keira Knightley e basta)!