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a ler (também)
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PURGATÓRIO
O. J. Simpson
Ninguém esquece Dostoiévski. E ninguém esquece Crime e Castigo, a história de Raskolnikov, o criminoso que mata por megalomania niilista e depois é devorado pela sua consciência. Quando li o romance, algures na adolescência, o que me impressionou não foi a natureza do crime ou a violência do criminoso. Foi a observação do inspector da polícia, para quem Raskolnikov acabaria por entregar-se às autoridades, derrotado pela culpa. O inspector não mexe um dedo; aguarda; até ao dia em que Raskolnikov vem ter com ele, mais doce do que um cordeirinho. Bingo.
Lembrei tudo isto com a saga de O.J. Simpson. Em 1995, e contra todas as evidências (ADN, fuga à polícia, etc.), O.J. Simpson foi ilibado da morte da mulher e de um amigo por razões politicamente correctas: o advogado agitou o fantasma do racismo e o júri acreditou. Mas a absolvição pesou na vida de Simpson, que procurou exorcizá-la com lapsos freudianos de proporções gigantescas. Há uns anos, em atitude infame, Simpson publicou um livro onde descrevia, a título hipotético, como teria morto a mulher e o amigo - uma forma tortuosa de confessar que realmente o fez.
E, depois disso, o homem juntou-se a um gangue de delinquentes para cometer crimes inaptos, oferecendo-se novamente à captura e à justiça. Como um cordeirinho. Levado a tribunal, foi agora condenado no exacto dia em que passaram 13 anos sobre a sua insuportável absolvição passada. Ouvirá a sentença em Dezembro. Prisão perpétua é uma possibilidade.
Rezam as crónicas que, no momento da condenação, familiares e amigos gritaram de horror e desmaiaram no local. Simpson nem espirrou. Percebe-se. Para quem leu Dostoiévski, a expressão no rosto de Simpson tem nome. Chama-se alívio.
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