quarta-feira, setembro 17, 2008

espelhos

Ela: Lembras-te de quando me disseste que os sonhos eram a tua biografia? Lembras-te? Como todo o som dos teus sonhos era o vácuo para onde eu fugia qual destino exilado de sentido. Lembras-te? De toda a dor que me mostravas nos falsos resguardos de tempo onde escondias da vida todo o fogo que privavas das palavras com que te foste apedrejando. Lembras-te? Dos nossos dedos a recolherem-se descuidados nas costas um do outro enquanto trocávamos todos os tocares passados sobre o derradeiro abismo. Lembras-te? De vermos o escurecer do sol e de dizermos que a confusão da noite imita a realidade privada de todas as palavras. Lembras-te? De como o mar reduzido à espuma na praia nos gelava os pés ao mesmo tempo que desenhava na pele pequenas ondulações imóveis. Lembras-te? De quando me passavas a mão na cara e apagavas todas as miragens que procurava nos outros rostos. Lembras-te? De quando eu te disse que surgiste como vertiginoso surto a irromper o curso das minhas correntes.

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