Eu - A coisa é hoje algo oco dentro de mim. Caminho encoberto num labirinto impossível.
Ela - Gostava de poder dizer-te que não sabes escolher as palavras e que o teu silêncio magoado ainda se enterra lágrima a lágrima no meu corpo como os lábios de um sorriso capazes de despertar a noite. Tens razão. Por mais que agora conversemos jamais os nossos olhos se cruzarão. Seremos agora sempre um simulacro do fomos, da vida e da coisa que tivemos. Sim, os caminhos do nosso próprio esquecimento estão apagados do ar, arrumados como as janelas fechadas pela força do vento. Foste o meu espelho, reflexo de mim no meu interior, eu reflexo de ti no teu interior. Já não tenho medo de te escrever. Já não rasgo o que te escrevo. Escrevo-te a pensar em todos os outros rostos que estão por vir. Finalmente, limpei as nódoas do fingimento que me obrigavas a pintar nas superfície das minhas palavras.
Eu - Dizes que estiveste sempre desatenta de ti? Que a nossa coisa nunca passou de precária eternidade?
Ela - Esperas sempre tudo de mim. Esperas sempre que me evoque e me defina, quando em todas as palavras sempre te quis dizer esquece a verdade, mas isso soaria a falso como quando dizes que a coisa só pode existir nas palavras e na pele das pedras. Vives ainda nos dias de uma memória antiga onde contemplas o nosso rosto aos olhos dos outros. A solidão de nós não me dói e a pele das pedras é a vontade do vento em morrer. Todos temos vontade de morrer. Do mesmo modo que todos temos luz a explodir dentro de nós. Nunca fomos a hera que envolve as casas, nunca fomos o mar ao fundo das ruas das cidades. Ao despedir-me de ti não me despeço de mim nem do interior do sono das plantas. Despeço-me apenas de ti. Tudo o resto está nos meus olhos: rostos belos de amor, mãos que dão voz ao nosso corpo e palavras espalhadas pelos ouvidos do silêncio. Tudo isto acontece em mim mesmo sem ti. Poderei falar em voz alta, aos berros sem medo de estar a sonhar que já não vou mais simular a espera do amor. Ou da coisa como gostas de ouvir pulsar nas tuas chagas.
Eu - Deixa-me reunir a minha dor. Estou turvo neste nevoeiro de gargantas de dor. Nada aconteceu? Mas falas de uma abrupta queda vertiginosa ou de um exercício funambular?
Ela - Falo de nada. Quem pinta as paisagens desérticas? Se estão pintadas alguém esteve lá, percebes? Amanhã posso voltar a precisar de ti, como quem colecciona velharias para o corpo. A vida é para ser tida dia a dia, percorrida como rua deserta com as veias cintilantes a tentar saciar a sede do coração. Quero lavar todas as incertezas dos outros corpos na minha cama conhecer os sexos que esburacam a terra e se colam ao meu corpo. Quero ser quem desaparece com o nascer do sol e quem mantém o fogo da lua aceso. Envelheceremos separados como lua derretida e sol nocturno. Os novos dias chegarão já de noite para o meu corpo caminhante. As minhas falas terão a verdade da noite violenta das facas e do sangue que escorre do interior dos ossos. Não quero mais palavras com indecifráveis imagens e sinais.
Ela - Gostava de poder dizer-te que não sabes escolher as palavras e que o teu silêncio magoado ainda se enterra lágrima a lágrima no meu corpo como os lábios de um sorriso capazes de despertar a noite. Tens razão. Por mais que agora conversemos jamais os nossos olhos se cruzarão. Seremos agora sempre um simulacro do fomos, da vida e da coisa que tivemos. Sim, os caminhos do nosso próprio esquecimento estão apagados do ar, arrumados como as janelas fechadas pela força do vento. Foste o meu espelho, reflexo de mim no meu interior, eu reflexo de ti no teu interior. Já não tenho medo de te escrever. Já não rasgo o que te escrevo. Escrevo-te a pensar em todos os outros rostos que estão por vir. Finalmente, limpei as nódoas do fingimento que me obrigavas a pintar nas superfície das minhas palavras.
Eu - Dizes que estiveste sempre desatenta de ti? Que a nossa coisa nunca passou de precária eternidade?
Ela - Esperas sempre tudo de mim. Esperas sempre que me evoque e me defina, quando em todas as palavras sempre te quis dizer esquece a verdade, mas isso soaria a falso como quando dizes que a coisa só pode existir nas palavras e na pele das pedras. Vives ainda nos dias de uma memória antiga onde contemplas o nosso rosto aos olhos dos outros. A solidão de nós não me dói e a pele das pedras é a vontade do vento em morrer. Todos temos vontade de morrer. Do mesmo modo que todos temos luz a explodir dentro de nós. Nunca fomos a hera que envolve as casas, nunca fomos o mar ao fundo das ruas das cidades. Ao despedir-me de ti não me despeço de mim nem do interior do sono das plantas. Despeço-me apenas de ti. Tudo o resto está nos meus olhos: rostos belos de amor, mãos que dão voz ao nosso corpo e palavras espalhadas pelos ouvidos do silêncio. Tudo isto acontece em mim mesmo sem ti. Poderei falar em voz alta, aos berros sem medo de estar a sonhar que já não vou mais simular a espera do amor. Ou da coisa como gostas de ouvir pulsar nas tuas chagas.
Eu - Deixa-me reunir a minha dor. Estou turvo neste nevoeiro de gargantas de dor. Nada aconteceu? Mas falas de uma abrupta queda vertiginosa ou de um exercício funambular?
Ela - Falo de nada. Quem pinta as paisagens desérticas? Se estão pintadas alguém esteve lá, percebes? Amanhã posso voltar a precisar de ti, como quem colecciona velharias para o corpo. A vida é para ser tida dia a dia, percorrida como rua deserta com as veias cintilantes a tentar saciar a sede do coração. Quero lavar todas as incertezas dos outros corpos na minha cama conhecer os sexos que esburacam a terra e se colam ao meu corpo. Quero ser quem desaparece com o nascer do sol e quem mantém o fogo da lua aceso. Envelheceremos separados como lua derretida e sol nocturno. Os novos dias chegarão já de noite para o meu corpo caminhante. As minhas falas terão a verdade da noite violenta das facas e do sangue que escorre do interior dos ossos. Não quero mais palavras com indecifráveis imagens e sinais.
5 comentários:
É verdade...Nós deveríamos ser mais práticas, mais objectivas... Embora sejamos mais hábeis no uso da linguagem, desde logo porque utilizamos os 2 hemisférios cerebrais para essa actividade, enquanto os homens usam apenas o lado esquerdo, penso que, em muitas situações pode não ser necessariamente bom. "Ela" poderia ter dito muito mais com o silêncio.
Loool, uma pessoa le cada coisa...
Meguinha, posso fazer-te duas perguntas? Cá vão: conheces o miguel aroso ou aceitas toda a gente no hi5 :-)? porque raio não abres os comentários do teu blogue?
gracias
Conheço o Miguel, porquê? És amigo dele? Não aceito pessoas que não conheço...Mas porquê? Os comentários foram fechados porque no meu antigo blog tive surpresas muito desagradaveis. Apaguei-o e criei um novo sem essa opção. Mas disponibilizo o meu mail, como já tinha referido anteriormente. Há alguma coisa que eu deva saber e não sei?
Sim, conheço muito bem o pastor do Miguel Aroso! Entrámos no mesmo ano para a faculdade, andámos juntos na Tuna, e hoje pese a distância, ainda nos encontramos com relativa frequência! Somos bons amigos! O mundo é mesmo pequeno...
Quanto aos comentários, só perguntei porque às vezes apetece-me dizer qualquer coisa e não posso :-)
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