Nos próximos tempos estarei em A-Ver-o-Mar a gastar os últimos dias de férias. Faço férias nesta antiga aldeia desde de que nasci. Lá, as mulheres têm os pés da cor do paralelo encardido das estradas. Vestem negro e fazem-se transportar em carroças puxadas por cavalos mal-tratados e cansados. As famílias seguem a vontade de Deus Nosso Senhor e são numerosas. Mal se ganha prá panela. Há diárias romarias para a missa. Reza-se a Abemaria num altar que dá para a praia. Fala-se muito alto, aos berros e as crianças conduzem motas e jogam futebol em campos de areia delimitados pelo argaço. Há medas de sargaço que parecem mantas estendidas sobre o areal, foguetes e pessoas que nadam com bandeira vermelha. Na praia há um moinho. Pertence a Luísa Dacosta e é ele que purga o tempo das tardes soalhosas de Agosto naquela praia. Em A-Ver-o-Mar a praia tem barcos com nomes de Santos e de filhos perdidos para lá do Cabo de Santo André. Em A-Ver-o-Mar o mar é frio como as lágrimas de uma morte e tem jardins de beijinhos, búzios e conchas cor de ouro. Em A-Ver-o-Mar as nortadas não são indiferentes e expulsam os corpos fracos como bússolas doidas para lá do horizonte. Em A-Ver-o-Mar o cheiro do traiçoeiro mar pinta as paredes de todas as casas com uma brisa de dor.
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6 comentários:
e tu escreves tão bem que às vezes só me apetece mandar-te uma cabeçada!
conheço essa zona. fica entre quião e a póvoa quem vem de ofir. passo aí muitas vezes mas nunca me deu para parar. talvez o faça da próxima vez.
ester
tá bem, tá!!! vais prá festa do emigrante é o que é!
Olá, olá. Vamos por partes.
Obrigado!
Sim, é isso mesmo, Ester. Se parares, não te arrependerás.
Claro que vou. Carrinhos de choque e farturas são os meus hobbies de Verão. :-)
É isso tudo e ainda mais:
É uma pena que em A-ver-o-Mar haja uma festa em que vendem a "banha da cobra" (literalmente) à minha porta de forma interrupta desde as 8 da manhã até às oito da noite...
Sim, é verdade! Também o sinto... nos ouvidos! :-)
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