quinta-feira, julho 26, 2007

Uma premonição onírica realizada

- como a água dos mares. juntos vimos e para longe fluímos. -

Luta dos contrários no lodo bárbaro: gostava de conhecer os mecanismos de distorção dos sonhos perante a realidade.

- na minha alma nada resta que não tenha crescido pela violência. -

Cabe-me inventar. Uma demoníaca plenitude de realidade. Escada sem chão nem céu. Cabe-me inventar. O poema dos sonhos precários em que te desenhei numa condição que há muito os anjos já desertaram.

- és a respiração unânime da minha vida múltiplice. -

Mas nenhum poema me dá jamais a aguda sensação de repouso que me TU dás quando suponho ter na minha mão todas palavras para te nomear. Merda para tudo, sabes? Só queria que aceitasses ser mais do que uma presença indiferente ao meu destino.

7 comentários:

Coccinella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Coccinella disse...

Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.


Eugénio de Andrade

Coccinella disse...

Excelsas mãos as que assim esculpem, no incorpóreo, o busto carnal da beleza. Voltarei, A.S.

A.S. disse...

Obrigado. por acaso, não quer deixar aí o seu blogue?

Coccinella disse...

Não poderei encerrar permanentemente o recôndito. Sabes, ao existir, ele deixa de me pertencer.

http://ococeualto.blogspot.com

A.S. disse...

Sim, percebo o que queres dizer. Prometo não o passar de mão em mão.

Coccinella disse...

Considero que o destino das letras deve ser a dispersão. Que tenho eu a dizer, se já nem as possuo? ;) Livre arbítrio teu.

Continuarei a visitar este silêncio verboso, A.S.