Estava cada vez pior. Bebia desmesuradamente. Não conseguia já pegar na garrafa que havia caído depois de a ter derrubado ao tentar levantar-me da cama. Da cama, sim. É um sítio como outro qualquer para beber. E beber deitado sempre diminui a possibilidade de chegar a um hospital com alguma parte do corpo partida. Ainda não entendi o que passa comigo. Ofereceram-me um emprego. Rejeitei-o. Gosto vagamente que as coisas me corram mal. Fui-me convencendo de que a culpa que sinto é apenas uma doença como outra qualquer. Uma constipação de Verão que nos estraga as férias, por exemplo. Decidi que seria melhor ficar sentado na cama. Olhei a minha barriga, que me bate já nas virilhas, e não evitei pensar que se fosse mulher jamais admitiria foder com alguém como eu. Sou quase repugnante. Agora estava ali sentado a sentir-me cada vez pior. Tenho de sair desta merda, repetia esta frase de cada vez que a lucidez se sobrepunha ao álcool. Havia mais um corpo na minha cama. Grosseiro, flácido. Ainda mais desgraçado do que o meu. Fui passar água pela cara. É notável o modo como o simples som da água a correr me traz a lucidez ao corpo. É por isso que raramente vou para praia. Toda aquela alegria choramingas liga-me demasiadamente à realidade. Gosto de andar apagado. Acordei a miúda. Inventei umas desculpa qualquer para que ela saísse rapidamente. Tinhas as carnes vermelhas, gastas. As pernas eram finas, mas nada delicadas. Eram brutas, como a cara de um marinheiro. Nada me agradava nela. Nada. Passou a noite a lamber-me uma cicatriz que tenho no queixo. Foi um gajo que um dia me deu a maior sova da minha vida. A gaja tinha marcas. Não daquelas que nos dizem que aquele corpo conheceu noites de inefável prazer, antes marcas que só os desgraçados têm. Marcas salientes, de nascença. Enquanto ela, ainda a dormir, empunhava um vestido dois números abaixo do seu tamanho, só conseguia pensar no valente monte de merda que havia fodido. Não passava de um mau fodilhão vendido ao álcool. Telefona-me, ok? Sim, sim. Claro! Agora vou para fora. Assim que chegue, ligo-te. Disse-lhe. Obviamente, a sonsa acreditou. Não tinha nada para fazer. A culpa continuava a fazer com que me sentisse mal. Lembrei-me de quando era miúdo e ia à missa. Fui, então, a um confessionário. Queria dar esta minha culpa a Deus. Entrei, e nada disse ao padre. Compreendo o teu silêncio, meu filho. Vejo que não vens cá há algum tempo, não é? Pois bem, nada precisas de dizer. Após 5 minutos de silêncio, disse-me que já podia sair e relembrou-me que todas as contribuições para a caridade eram bem-vindas. Deveria rezar, orar e o perdão estava concedido. Ser crente é mesmo bom, pensei eu à medida que saía da igreja. Não pude deixar de comparar a gaja que ficou a pensar que lhe vou voltar a ligar com os crentes. Não há nada melhor do que entregarmos nas mãos de outro os nossos erros e angústias. Havia um café em frente ao átrio da igreja. Entrei, sentei-me. Um fino num copo gelado. Havia rapazes por todo o lado. O irritante barulho das bolas de bilhar a baterem umas nas outras ocupava todo o som do café. Numa mesa estavam duas raparigas. Novas. 20 anos. Liam uma pequena revista com um gajo na capa. Olhei-as. Boas pernas e tornozelos delicados. Uns seios enormes e bem acomodados numa justa camisa. Uma combinação difícil de encontrar. Ainda assim, só uma delas me seduzira. Era alta. Mais alta do que eu, seguramente. Nunca montei uma miúda tão grande, pensei. Mesmo assim aquele metro e oitenta não valeria a pena tanta dedicação. Enquanto as olhava, riram-se da minha figura. Melhor uma delas riu-se, a outra, primeiro, olhou-me com uns olhos nem acanhados nem atrevidos, fosse eu inocente e diria que me lançou um olhar especial, mas depois acabou por se solidarizar com o riso jocoso da outra. As miúdas novas riem-se sempre dos homens mais velhos. Mal elas sabem que a velhice das mulheres é bem mais fodida do que a nossa. Desde de que fodi uma esteticista de 23 anos que jurei que nunca mais me metia com gajas assim. Gajas que não entendem o sexo como uma necessidade, antes como um prazer. Gajas que gostam de foder são um martírio. Para mim o sexo é uma questão de espera. Espero até me vir. É óbvio que há variações durante a essa espera. Quer dizer, ora tenho impulsos de ira, ora impulsos de amor. Ora estou desesperado, ora estou em gáudio absoluto. Acabo sempre apenas com uma convicção, vim-me. Depois espero até conseguir foder outra vez. Saí do café. Não deixei de reparar que as miúdas ficaram surpreendidas por não lhes ter falado. Curiosamente fiquei excitado com essa reacção. Fosse eu alguém de jeito e faria uma qualquer suposição de cariz ontológico sofre esse facto. Assim, guardo essa sensação para logo, quando chegar a casa, me masturbar com mais vontade.
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3 comentários:
confessa lá, a pessoas que escreveu este texto não é a mesma que escreveu os dois posts anteriores pois não?
é engraçado como as vezes precisamos de bater fundo e embora consigas (consigo) retirar um prazer quase vital por alcançares (alcançar) este estado, a verdade é q n me (te) parece a solução...ou pelo menos assim gosto de pensar...
eu confesso. foi a mesma pessoa.
sem querer parecer altivo, o indelével abismo que separa (ou une?) a vida da morte, o amor do ódio, resulta de uma profunda pulsão unitária. :-) enfim, delírios.
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