Hoje, fui a uma entrevista de emprego. Na Ribeira, mesmo junto ao Douro. Confesso-vos que ainda não sei muito bem ao que fui. Fui e pronto. O "entrevistador", que se definiu como um engenheiro da sociologia, é israelita, de esquerda, ateu e trabalha numa das maiores empresas americanas. Sim, sim, o paradoxo. "Com o meu trabalho e o dinheiro deles tento limpar alguma da merda que insistem em fazer por toda a parte", explicou-me (em inglês) o senhor. Numa conversa que durou mais de uma hora, disse, entre outras coisas, algo como isto: "dava a minha casa já hoje para acabar com a guerra" (em inglês, claro). Sem entrar em pormenores, uma vez que nem eu os sei, o trabalho a que me candidatei engloba passar curtos períodos fora de Portugal para deslocações a países como Marrocos, Jordânia, Turquia, Egipto e outros. A fazer o quê? Dar aulas. Formação a adolescentes. O que mais me entusiasmou neste emprego, foi o facto de haver a possibilidade de finalmente sair deste verde condomínio privado a que se convencionou chamar de Portugal. "Só vais ser realmente um homem quando cagares nas calças", disse-me o entrevistador (em inglês, novamente), após eu lhe ter confessado que estava farto do comodismo e da segurança que nos são oferecidos na Europa. "Precisas de viver uns tempos em Israel, em África ou na América do Sul, verás que sentes finalmente o sangue a fervilhar nas veias.", concluiu (em inglês) o "entrevistador". A conversa desenrolou-se sem as habituais perguntas cliché. Exemplos? Perguntou-me: "Vais a igreja?". "Não, não sou católico". respondi eu. "Não és agora, certo? Em Portugal, quase toda a gente já foi católica". Atirou cheio de confiança. "Pois, talvez seja verdade. Mas eu comecei a ler Nietzschze e pronto..." disse-lhe eu, enquanto ele se ria. "O que queres fazer da tua vida? Tens planos?". "Tenho! Quero fazer uma viagem à volta do mundo, de mochila às costas. Preciso de sentir que estou sozinho. Depois, quero ir dar aulas para África. Finalmente, gostaria de regressar cá e ter uma ninhada de filhos." Ri-me, enquanto bebi a uma última golada do fino que entretanto ele havia pedido. Começou a perguntar-me sobre os hábitos dos portugueses. Ficou muito admirado com o facto de não ser obrigatório ter ar condicionado nos carros (em Israel, pelos vistos, é obrigatório). Contei-lhe de uma vez que fui para o Algarve num carro sem a/c em que tivemos de parar para aí umas 10 vezes pelo caminho. "Das vezes que viajei num carro sem a/c só parei para me enfiar nos bosques com uma miúda". Disse o "entrevistador". Enquanto não chegava o candidato das 10h00 (atrasou-se, 'tá fodido), continuámos a falar. Perguntei-lhe se ele gostava Basquetebol. (nota: o basquetebol é o desporto mais popular em Israel, sendo eu fã de basket pensei que poderíamos discutir um pouco o assunto, ainda por cima a final da NBA está aí à porta). Ao que ele me responde: "Não. O único desporto de que gosto e que vejo assiduamente é luta na lama entre mulheres." E foi, mais ou menos, assim. Agora vou ler o jornal e depois vou dormir que estou acordado desde as 7h00 e isto não 'tá fácil.
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2 comentários:
impressão minha ou esse gajo é um bocado estranho?
Um pouco fora do vulgar. Mas empreendedor, decidido e solidário. Logo, boa pessoa. :-)
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