sexta-feira, junho 29, 2007

O último avatar.

Ela: O meu corpo é uma forma da realidade. Entre ela e o meu corpo não há esse mistério que tanto murmuras na tua solidão ignorada. Não invento nenhuma face. Sou apenas eu. Derradeira pedra nua. Aquilo que deves descobrir é se a linguagem te surge da alegria aberta ao mar, ou se apenas vives na linguagem com o final tremor das palavras. Pedes que me entregue. A quem? És um mito. Aleatório, brevário mágico de uma claridade nula, poética de um não-material. Acorda! Vê que para ti não passo de uma provisória plenitude, de uma inesperada vinda à luz, de uma fome despida. Tu és uma sombra aprofundada numa ponte sem pilares entre a vida e a morte. Para ti, tudo é esfinge. Não separas a visão daquilo que vês. Não sabes que não podes nunca corromper o silêncio de uma noite inteira de permanente quietude? Nunca serei tua. Não existes. Já há muito que foste devorado pela fabulosa decadência de uma existência cegante que te cerca. Sou testemunha do teu nascimento enquanto êxtase precário do invisível. Apenas queria que acreditasses que podes ser impensavelmente feliz, que nem tudo está entre nós e que, na tua anónima nostalgia, inocentemente descubras que o sonho nos exige sempre mais dor do que a própria vida.

6 comentários:

Sónia Balacó disse...

Afinal Ela sempre fala! =)

E é porque "o sonho nos exige sempre mais dor do que a própria vida" que nos afogamos nele, felizes no conforto de uma dor que prova a nossa existência além das pedras que nos preenchem.

A.S. disse...

confesso-me. não resisti ao desafio que lançaste. mas não é nada fácil escrever sobre aquilo que pensamos que os outros acham de nós.

Anónimo disse...

hoje anda cá tudo ao mesmo tempo. tou a ver que não sou o único que aproveita para dar uma vista de olhos no blogue à hora de almoço... ia escrever exactamente isso que acabaste de postar: tens uma noção bastante lúcida daquilo que és. sobre quem és e sobre o efeito que provocas nos outros.
acredito tb, mesmo só o sabendo indirectamente, que as mulheres devem ter alguma dificuldade em acreditar em ti e em perceber o que delas pretendes, ou não?

A.S. disse...

alguém que acredite em mim? porra!! mas eu lá me relaciono com malucos? agora a sério, essa questão não tem importância. a minha presença objectiva é que deve ser verificada e, depois, aprecidada ou não. nada há de verdade(s) no resto.

quanto às mulheres, fica para uma outra altura, com direito a post e menção especial ao teu comentário. ok? :-)

Hasta!

Anónimo disse...

"aprecidada"?

até ficaste nervoso com a pergunta :-D

A.S. disse...

não fiquei nada :-)