Eu: Acho que há coisas que deverias saber. Bem, há coisas que já sabes, mas parece-me que deverias saber a "coisa" que espera entre essas coisas que já sabes. O que sabes é um pequeno mundo visível que finges não perceber. Pois bem, é a essa margem extrema da tua desconfiança que eu apelo. O verdadeiro conhecimento não é aquele que se submete às coisas, mas aquele que, ultrapassando os limites dos sentidos, consegue entender os traços que nos unem à realidade. Pronto. Gosto de ti assim. Como uma palavra surpreendida para cada coisa, percebes?
Ela:
Eu: Tudo o que te disse até agora é um mísero sopro de todas as coisas. A "coisa" que realmente entendo, espera por ti em mim como uma centelha a pedir um leve sopro. Não te queria escrever mais, nem te falar nunca. As palavras, ainda que sejam um modo de alcançar a "coisa", favorecem apenas o empobrecimento da revelação. De uma forma ou de outra, queimas-me o ponto mais extremo do corpo, onde tudo se calcina. A "coisa" tem muito de indizível. A própria criação dessa "coisa" deveria ficar nas palavras e nunca mais poder voltar à realidade.
Ela:
Eu: Nunca me ensinaram nada. Mesmo assim vivo bem com este ressoar que me dás no coração. Pergunto-me sempre se alguma vez foi realmente nosso aquilo que julgamos ter perdido. Como uma sombra incandescente. Há quem julge tocar os troncos das estrelas, quando estas não mais são do que cinza da respiração plácida dos Deuses. Há loucos para tudo, já viste? O que me parece é que é a "coisa" em si que nós nunca podemos apreender. No fundo, e alguns à superfície, somos apenas animais. Entre a coluna que ergue a palavra e o silêncio também eu me lembro do quanto gostaria que agarrasses com a mão e com a boca o resultado do meu desejo e o saciasses, num delicado fulgor, até o devolveres, em tensão oblíqua, para o saborear de um instante e efémero momento glorioso, como um violinista que depõe o seu delicado e agora exausto instrumento depois de um concerto.
Ela:
Eu: Há no amor este jogo, peço desculpa. Serei fantasia em total liberdade. Não te assutes. O sémen faz parte do génio do corpo. O sémen é a substância e a essência do contacto perfeito. São essas impetuosas estrelas ascendentes de igrégia formosura que nos soltam o animal em pureza e graciosa felicidade, num momento em que tudo se inclina, numa audácia ardente, oferecendo o seu túmido ao corpo, local onde a delicadeza e os sonhos das raízes e da seiva fazem girar um fogo absoluto, de uma mulher que já não sentirá nunca mais a monotomia da ausência. É aí que o silêncio ganha iminência e ilumina as palavras e as faz estremecer como débeis e cansadas folhas de outono à mercê das intempéries. É aí que o sémen, despontado abruptamente como orvalho numa vigorosa flor arrancada à terra, se torna irrefutável como a fluência do sangue. Agora, seríamos imortais. Viveríamos em glória. Ventre rasgado e descoberto, como um impulso de novos inícios. Seria a "coisa" a consumar-se. A tornar-se imortal como consequência, lastro derramado no firmamento. Assim, seríamos para sempre. Porque o que foi não se apaga da eternidade, apenas pode ser ausência no tempo.
Ela:
Eu: Não te posso dizer mais. Como sempre, nada me garante que tudo isto não passe de um logro de uma fantasia vã.
Ela:
Eu: Tudo o que te disse até agora é um mísero sopro de todas as coisas. A "coisa" que realmente entendo, espera por ti em mim como uma centelha a pedir um leve sopro. Não te queria escrever mais, nem te falar nunca. As palavras, ainda que sejam um modo de alcançar a "coisa", favorecem apenas o empobrecimento da revelação. De uma forma ou de outra, queimas-me o ponto mais extremo do corpo, onde tudo se calcina. A "coisa" tem muito de indizível. A própria criação dessa "coisa" deveria ficar nas palavras e nunca mais poder voltar à realidade.
Ela:
Eu: Nunca me ensinaram nada. Mesmo assim vivo bem com este ressoar que me dás no coração. Pergunto-me sempre se alguma vez foi realmente nosso aquilo que julgamos ter perdido. Como uma sombra incandescente. Há quem julge tocar os troncos das estrelas, quando estas não mais são do que cinza da respiração plácida dos Deuses. Há loucos para tudo, já viste? O que me parece é que é a "coisa" em si que nós nunca podemos apreender. No fundo, e alguns à superfície, somos apenas animais. Entre a coluna que ergue a palavra e o silêncio também eu me lembro do quanto gostaria que agarrasses com a mão e com a boca o resultado do meu desejo e o saciasses, num delicado fulgor, até o devolveres, em tensão oblíqua, para o saborear de um instante e efémero momento glorioso, como um violinista que depõe o seu delicado e agora exausto instrumento depois de um concerto.
Ela:
Eu: Há no amor este jogo, peço desculpa. Serei fantasia em total liberdade. Não te assutes. O sémen faz parte do génio do corpo. O sémen é a substância e a essência do contacto perfeito. São essas impetuosas estrelas ascendentes de igrégia formosura que nos soltam o animal em pureza e graciosa felicidade, num momento em que tudo se inclina, numa audácia ardente, oferecendo o seu túmido ao corpo, local onde a delicadeza e os sonhos das raízes e da seiva fazem girar um fogo absoluto, de uma mulher que já não sentirá nunca mais a monotomia da ausência. É aí que o silêncio ganha iminência e ilumina as palavras e as faz estremecer como débeis e cansadas folhas de outono à mercê das intempéries. É aí que o sémen, despontado abruptamente como orvalho numa vigorosa flor arrancada à terra, se torna irrefutável como a fluência do sangue. Agora, seríamos imortais. Viveríamos em glória. Ventre rasgado e descoberto, como um impulso de novos inícios. Seria a "coisa" a consumar-se. A tornar-se imortal como consequência, lastro derramado no firmamento. Assim, seríamos para sempre. Porque o que foi não se apaga da eternidade, apenas pode ser ausência no tempo.
Ela:
Eu: Não te posso dizer mais. Como sempre, nada me garante que tudo isto não passe de um logro de uma fantasia vã.
5 comentários:
a minha alma está parva. a descrição que fazes do acto sexual é tão imaculada e pura que convencias na boa uma freira a ir para a cama contigo :D
Tens uma capacidade inacta para arrancar verdade à ficção. Não quero saber do que há de real nesta confissão. Quero saber só do sítio para onde me transporta e, por isso, obrigada.
Do título à última linha, o queixo no chão do prazer.
Por último, um desafio: por que não dares-lhe palavra a ela também?
=)
Errata: porque.
e eu estou parvo com a facilidade com que chegaste ao que eu queria dizer :-)
s.b., em relação ao título, tenho a sensação de já o ter lido em algum lado. Ou pelo menos de já ter assimilado aquela ideia depois de ler alguma coisa assim parecida, mas como não tenho a certeza se foi isso ou se realmente me surgiu, decidi colocá-lo sem aspas até porque não saberia de quem era. de qq modo, fica a nota.
qt ao desafio, jamais me atreveria tentar imaginar ou escrever o que poderia uma mulher dizer neste diálogo. :-)
Outra errata senhor escritor: inata...:))qual de nós os 2 é melhor professor de Português?? ;)
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