segunda-feira, maio 21, 2007

O reverso da medalha.

Ella Fitzgerald - Dream a little dream of me

Há coisas que já sei que não me vão acontecer. Ou que pelo menos dificilmente me acontecerão. Por exemplo, jamais serei rico. Falo do dinheiro. Rico o suficiente para só fazer o que gosto. É matematicamente impossível que eu algum dia seja rico. Não estou a ver um professor de Português (ainda por cima dos que gosta de Literatura... se ainda fosse de Linguística, sempre podia ir enganar mais uns suecos.) a ter capacidade para segurar as poucas notas que lhe são entregues nos longuínquos ventos da CGD. Depois, tenho vícios caros de mais para poder ser rico. Sempre gastei toneladas de dinheiro em livros, cd's, dvd's e, novamente, livros. Compro (quase) tudo. Muito. Merdas que ainda não li e que nem sei se vou ler tão cedo. Enfim, não tenho livros de cabeceira. Perco esse tempo. Vou para a cama quando quero dormir. Nem livros para as férias ou para ler na praia. Fico impressionado com estas variações light da leitura. Na praia, corro atrás da bola (jogar futebol para mim é isto), ou passo horas a fio dentro da água. NÃO LEIO! Nada, rien, niente. Admiro quem o consiga fazer. No meio daquele barulho e calor infernais. E sem pousar, por uma vez que seja, os olhos nos corpos capazes de roubar o silêncio aos Deuses. PARABÉNS. Voltando ao assunto. Já pensei muitas vezes sobre isto. Podia estar um ano sem comprar nada e mesmo assim não lia tudo o que tenho para ler. Acho que já estou a pensar nos meus netos. Honestamente. Quero ser um daqueles avôs a quem os netos orgulhosamente recorrem. Espero que na altura essas conversas ainda sejam valorizadas. E que eu as consiga ter. Saber que temos alguém para nos suprir as dúvidas, é reconfortante. Gostava de morrer com essa sensação. De morrer ainda útil. Bem, há também aquelas promoções da Taschen, com aqueles livros cada um melhor do que o outro, a 19 euros cada. Ora, 19 + 19 + 19 + 19 + 19 + 19 + 19 = a pedir dinheiro à mamã para ir tomar um cafézito... Ou então, começar a falar ao jantar, como quem não quer a coisa, "nuns livros muito bons que vão sair agora"... E, depois, ainda há as malditas feiras dos livros. Nunca vi 1euro ter tanto peso da carteira de alguém. É fodido. Eu sei. Já tenho amigos a ganhar centenas de euros por mês. Até o caçula junta já mais dinheiro num mês do que eu num ano... Enfim. Não me sinto mal com a minha situação. Honestamente. Inacreditavelmente, fui eu que a escolhi. Passo o dia absorvido com trabalhos caseiros, como costumo dizer. Prefiro isso a ser um mercenário que se abasta de coisas inúteis. Todos nós temos uma espécie de lado que os outros nos reconhecem. O "x" é o gajo alegre, o "y" é o que entende de economia e política, o "z" o que só fala de futebol. A mim, por vezes, parece que ninguém me conhece. "Então, estás a procurar emprego?" "Não? Como não? Não queres ser válido na sociedade?" "Deixa-te dessas conversas e assume-te responsável. Tens 25 anos." "Ó amigo, tu não queres é trabalhar" "És um burguês que sabe que pode contar sempre com o amparo da mamã". Na última quase que me revejo. Desde que me lembro que trabalho de graça. Fazia a minha rica vidinha na boa desde que estivesse feliz. Cliché? É verdade. Cliché, simples e verdadeiro. Caguei para isso. Quero paz e sossego e poder fazer o que gosto de fazer. Não culpo ninguém pela minha situação. Governos, ministros e outros pseudo-licenciados em engenharia. Fui eu que escolhi este curso. É isto que eu sou. Nunca poderia ser médico, advogado, optometrista ou gestor. Gestor! :-) Por acaso, deveria ser bonito. Gestor. Eu?! :-) Por isso é que quero ir dar aulas para África e ficar lá o tempo necessário. Chegar lá e escrever-te: "Cheguei bem. Nunca te esqueças que a tua mão cabe dentro da minha. L Y." Só queria que entendessem que pertenço tanto a este mundo exactamente quanto o espaço sideral que ocupa um grão de areia. Voltando à economia. O que me vale é que Braga é a personificação urbanística do marasmo cultural, caso contrário a minha situação agravar-se-ia dramaticamente. Acrescente-se a isso o facto de ser alérgico às cartas do banco. Investir - dizem eles. Eu invisto, amigos. Oh, se invisto. Invisto tanto que até conheço a música acima indicada de cor e salteado.

3 comentários:

Sónia Balacó disse...

No comments.

http://narcisicamente.blogspot.com/2005/06/vocao-para-ser-pobre.html

http://narcisicamente.blogspot.com/2005/08/dream-little-dream-of-me.html

=)

A.S. disse...

Já lá fui "cheirar". Creepy!!

:-)

Anónimo disse...

ola, eu amo a musica o reverso da medalha, essa musica me traz otimas recordações de minha vida em 1993, por favor se voce tiver a letra, por favor me mande, ficarei eternamente gfrata. abraços