É incrível! 200 comentários. Não me lembro de ter dedicado tanto a alguma coisa desde do 10º ano, altura em que passei horas a lançar bolas ao cesto de olhos fechados para lá da linha de três pontos. Ou, então, desde do tempo em que passava os dias absorto em cadernos onde calcinava tudo e todos, e onde condenava os meus pais por me terem feito nascer. Cadernos esses que, depois da minha atitude kafkiana, só conheceram as minhas mãos e os olhos dela. Nunca fui de compromissos, mesmo no blogue não o sou. Ao princípio, pensei em tentar fazer uma coisa engraçada, com algum humor. Fiz os planos, faltou o engenho e a disponibilidade. À medida que o tempo foi passando, o blogue ganhou vida própria e acabou por criar o seu caminho como bússola perdida em longuínquos ventos. O que é o meu blogue? Não sei bem. Não é um diário pessoal e muito menos será um diário da minha (inexistente) actividade profissional*. De certo modo, sinto que é aqui que lido com o meu caos. É um casulo febril. Reasseguro aqui a questão moral do reconhecimento da minha condição. Já o disse, por várias vezes, no fundo sou um pequeno burguês. A minha vida tem sido assim; o que vem, vem, e o que realmente importa é que lhe consiga dar, pelo menos, algum sentido. Como na música Karma Police em que só consigo ouvir o refrão. Só quero ouvir aquele falsete do vocalista. Tudo o resto é mau. Então, o importante é que consigamos imaginar voar para lá do que se passou. E, para isso, é necessário imaginar saber o que constantemente se vai passando. O que vem, vem. As coisas simples de que tantas vezes falo. Através do blogue, vou percebendo, pelos motejos das coisas que aqui vou escrevendo, que deixo o rasto telúrico que só as personagens tristes encarnam. Não é verdade. Bem o oposto. Tenho antes uma alegria preguiçosa. Sou, por assim dizer, apreciador de uma realidade sensorial depressiva que pactua, harmoniosamente, com as perdas.aflições.mágoas.dores.tristezas que já vivi e que, inevitavel e obviamente, aqui e ali, vou vivendo. Sejamos claros em relação a este ponto, uma vez que, na verdade, quando a tristeza está demasiado entranhada e nos surge cravada ao peito, não a consigo alimentar através da escrita. Nesse aspecto, não consigo estetizar. Não existem soturnas açucenas. Quando estou realmente triste, ausento-me, isolo-me. Queria dizer mutilo-me, mas tenho medo de ser mal entendido. Evito escritas e danças que invoquem o espectro das floridas águas das paixões. Encantar a melancolia é uma ostentação só disponível à magnanimidade daqueles que vivem no sono letárgico do Olimpo. A minha angústia ganha, assim, contornos de silêncio mal disfarçado. De resto, continuo com o mesmo objectivo. Ir a uma festa e não ficar ébrio. Ainda que, por vezes, e cada vez mais na maioria, agora apenas o fique controladamente. O álcool, o alimento perverso dos sonhos oxidados dos anjos, é ainda germe da mágica vida da linha da mão. A arte dos insuspeitos ofícios da linhagem. Amigos, leitores e aparecidos momentaneamente, este sou eu. O resto são rumores que as imagens deixam escapar como frutos caídos em ramos decrépitos. Neste momento, o blogue é como uma foto que se cola aos dedos. Gosto dessa sensação. Por momentos. Não posso ficar eternamente com a foto na mão. Estrago-a. Já tenho o final do blogue planeado. Só não sei a data. Um pouco como a minha vida. Já pressenti, várias vezes, a força intumescida das larvas que sobem o medo da última noite. Não serei jamais iluminado repentinamente por dentro como quem acende um pinheiro em noite de Natal. Por isso, respeito o círculo de tudo e tento sempre chegar ao ponto de união com o máximo de profundidade possível. Centrípeto. Como a sabedoria dos lumes dos índios que se sentam ao fim da noite em círculos. Por agora, nada mais me é vísivel. Está tudo pronto. Este é o meu blogue.
*- Por falar nisso, para a semana tenho uma entrevista para um trabalho. Formação que envolve uma ida por 15 dias ao Egipto (óptimo). Trabalho que exige 10 horas por semana (maravilha). E paga 1000 dolares por mês (não está mal).
*- Por falar nisso, para a semana tenho uma entrevista para um trabalho. Formação que envolve uma ida por 15 dias ao Egipto (óptimo). Trabalho que exige 10 horas por semana (maravilha). E paga 1000 dolares por mês (não está mal).
4 comentários:
descobri este blog muito recentemente. estou a gostar muito. escreves muito bem. pareces-me também uma pessoa muito sensível. dizes coisas que me deixam completamente abismada.
parabéns. e que o blog não acabe brevemente. ok?
Pronto... 'tá bem! :-)
Se por "brevemente" entendes "amanhã",então podes ficar descansada. :-)
P.S.- Gostava de saber como é que se descobre o meu blogue, sabendo eu que não faço comentários em lado algum...
C'est pas vrai, monsieur... =p
Mas pronto, vinha eu espingardar, como de costume, para dizer que o início do post me pareceu mesmo uma coisa que escrevi lá no meu umbigo há algum tempo e vinha, então, colocar aqui os links para que te abismasses com isso tal como eu... Só que, confesso, estou cansada demais para ter força na ponta dos dedos para isso.
Fica o que importa, no fundo: um sorriso.
"C'est pas vrai, monsieur... =p"
Pois, tens toda razão. És regra que se faz da excepção. :-)
Então, descansa e depois põe cá os links. Fico à espera.
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