Gosto muito de futebol. Muito mesmo. Mas não sou parvo. Pelo menos em relação a este assunto.
O sindicato dos jogadores profissionais de futebol, na pessoa do seu Presidente, invoca o "desgaste rápido" da profissão de futebolista, para contestar a ideia de que os jogadores devem passar a descontar para o IRS sobre a totalidade do seu rendimento, em vez dos 60% actuais. Para além disso, insurge-se contra a ideia de passarem também a descontar para a segurança social.
Acho que não é preciso muito argumentário para desmanchar esta retórica balofa e egoísta do Presidente do sindicato. O "desgaste rápido", que dá origem a um regime tributário de excepção, pode ser aplicado a outras profissões (modelos, actores, etc.) e não o é. Este regime excepcional é um atentado ao princípio da igualdade, isto é devemos pagar impostos segundo a nossa capacidade contributiva.
O mesmo "desgaste rápido" invoca para um outro caminho. Então um jogador que termine a sua carreira com 35 anos não está ainda na posse das suas faculdades físicas e mentais? Não tem capacidade para recomeçar uma nova carreira? Ou só porque conduzem BMW's já não se podem levantar às 7 da manhã para irem trabalhar?
Atentemos neste exemplo. No Público de ontem, era notícia o facto de um jogador do Nacional da Madeira (Luciano) ser pretendido pelo Beira-Mar. O jogador tem sido pouco utilizado e é dado como "dispensável", o que despertou o interesse do clube de Aveiro. O entrave a uma possível transferência é o salário do atleta - 12 mil euros/mês. Ora, é fazer as contas. Este senhor ganha num mês o que eu ganho num ano. Assim sendo, a sua capacidade de investimento é muito maior do que a minha. Os juros dos seus rendimento são muito mais elevados do que os meus. Bem, jogadores como este senhor jogam entre 7/10 anos (100/120 meses) com estes rendimentos o que perfaz qualquer coisa como 1.200.000 mil euros. Agora eu pergunto, quantos de nós vamos algum dia ganhar/possuir este montante? Não será suficiente o dinheiro que este jogadores amealham durante a sua vida profissional para depois terem capacidade para recomeçar um outro negócio? Se vos dissessem que aos 35 anos teriam cerca de 1.000.000 de euros para começar uma vida nova, achavam pouco?
Não me referi aos ordenados faraónicos e obscenos que os mais mediáticos jogadores auferem. Destaquei o exemplo de um jogador banal, de uma equipa média de um periférico campeonato. Estas pessoas não têm a mínina noção da realidade. Ainda há pouco, li uma entrevista do JVP em que ele dizia que enquanto jogava no Benfica e no Sporting que não pensava muito nas despesas (diz-se que auferia 175 mil euros/mês), mas, qual Tio Patinhas, agora que passou a jogar em clubes mais modestos (Boavista e Braga) e que viu o seu ordenado cortado para uns míseros 30 mil euros/mês, se vai apercebendo das dificuldades que as pessoas "normais" têm. É preciso ter lata.
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