a propósito de uma mulher bonita a lamber uma foto do steven tyler

há tantos gostos que me desagradam. por exemplo, não gosto nada de gostar de beatles. o lennon foi uma figuraça lamentável, basta ver pela perduravelmente chata asiática que deixou ao mundo, e o macartney é, pura e simplesmente, feio. ainda hoje me surpreende como conseguiu ser símbolo sexual para as adolescentes britânicas - se bem que a grande maioria dos britânicos também são feios que dói. por cá, sempre tínhamos o paulo de carvalho que fazia mossa em muitos corações à espera de arrombamento. por outro lado, cid partilhou-se por vários corpos. o ringo fazia também justiça ao nome. e isto, sem saber muito bem porquê, leva-me a pensar na minha própria condição. sim, porque existe em mim uma fealdade incontornável: não me faltou o aparelho nos dentes na adolescência; no lugar do nariz tenho uma penca, não muito rotunda, é verdade, mas de acordo com o aquilino septo nasal do meu pai; os olhos cedo perderam a autonomia nas suas funções; o queixo está demasiado recolhido, e ganha já um gémeo no andar debaixo; a minha cor dá mau nome a um desmaio decente; a minha forma física só não faz rir quem não se ri de nada. ainda no outro dia ao ver um vídeo familiar pensava: "porra, como sou feio!". reconheço, no entanto, que me habituei a esta feiúra. o estilo não é irreconciliável com a ausência de beleza natural. pelo menos, ando convencido disso. e muita da nossa felicidade passa pelo engano. e mesmo que não passe, posso sempre dizer tenho pela frente muita margem de progressão.