quarta-feira, março 09, 2011

visitas de compasso



sejamos honestos. haverá poucas coisas que gostemos mais do que uma palmadinha nas costas. curioso é ver que começamos todos com uma palmadinha no rabo. para subir a adrenalina, dizem os parteiros. a palmadinha nas costas, pensando em simetrias, nada tem a ver com isto. é antes um incentivo ao marasmo. mas não deixa de ser uma palmadinha. pensando ainda em simetrias, tivemos muito mais coragem, e foram também mais corajosos connosco, quando nos enfiaram um par de sapatadas no rabo, acabadinhos que estávamos de sair do centro do mundo. não sei ao certo o que levou o hino dos deolinda a canção de uma geração. não sei, mas acredito que terá sido o mesmo tipo de raciocínio que elevou o andré sardet ao estatuto de cantautor. provavelmente, muito provavelmente, tudo não passa de mais uma expressão inconsequente da populaça, que só se faz ouvir sempre que se depara com uma oportunidade para reconstituir um auto de fé, ainda que improvisado e que, por isso mesmo, nunca é ouvida e é sempre desconsiderada, excepto no momento crucial do nobre exercício do direito ao voto, de que a populaça pouco ou nada sabe porque é que é nobre ou porque é que é cívico. antes que me stilwellizem, reconheço que estamos a passar por um mau bocado. e certamente que queria ter uma vida melhor do que aquela que levo. e gostava de poder ter e fazer tudo o que quero. mas, seja eu maluquinho, não é isto normal neste e em qualquer outro país? não é da incapacidade ou até da impossibilidade que surgem novas visões sobre a rex publica? tudo resto são lampejos. simulacros de acção. fazer de conta que se faz. e mais. esta merdinha de manifestação é umbiguista, como não poderia deixar de ser. estou convencido, mas depois veremos, que esta geração não sofre, ou não sabe sofrer, porque mesmo quando tem de sofrer sofre apenas a sua miséria, tornando-a mais pequena do que deveria ser. não sofremos, se quisermos, à escala do mundo, à dimensão da sua própria vida e história. que não sofremos pelo que fomos e pelo que ainda podemos ser. esta geração sofre apenas por acabar, quando acaba, e que deveria, antes, sofrer por querer correr contra o tempo antes que este lhe falte. e o meu problema com eles, talvez seja esse mesmo. o pequeno círculo em que se movem. onde todos os dias nada fazemos para sermos diferentes do dia anterior; olhamos com os mesmos olhos e naturalmente vemos as coisas da mesma maneira; falamos todos os dias sobre tudo o que se falou nos dias anteriores. uma geração que não encontrou (ainda) um princípio de dor nos olhos que mostre que somos capazes de sentir, por um momento, o brilho de uma faúlha de vida. porque no fundo, como me diz a minha mãe, "tu queres é mimo"!

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