your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
Charles Bukowski
A Morada do Silêncio
domingo, fevereiro 16, 2014
sexta-feira, fevereiro 08, 2013
2013: a barba, a rapariga, o grama, a amiga e a palavra chave.
1- É poderosíssimo o elo entre a memória da perda e prefiguração que dela fazemos. De barba raza.
2- A rapariga não quis receber os dois cêntimos: “Deixe lá estar isso”, disse. Não foi generosidade que se ficou com o troco, percebeu-se pela voz lassa, foi uma desistência profunda de tudo. “Deixe lá estar isso”. Assim mesmo. Estávamos na pastelaria e ela tinha comprado um bolo cheio de creme e 2 pães. Só os solitários condoídos compram dois pães pela manhã. Se lhe entregassem o boletim premiado do euromilhões certamente diria «deixa lá estar isso» com a mesma indolência de alma com que um dia se deixou cair. Penso. Pedi um Ice Tea e esperei pelos poucos cêntimos de troco. Não por convicção, mas não quis deixar sinais de negligência para outros devolutos desta vida.
3- Cada vez mais me convenço que o obediente uso do português é recebido nas charcutarias como um momento de arrogância gramatical: «duzentos gramas de fiambre, se faz favor»
4- Há tempos um amiga minha contou-me que acabara com o namorado após uma relação de anos. Não aguentava mais. Demasiada exigência, demasiada pressão, demasiado conflito, demasiada incompatibilidade. A verdade é que a inevitabilidade desse desfecho era há muito exuberante. A única dúvida para mim, como para os demais conhecedores das danças do casal, estava em perceber como é que ela tinha aguentado tanto tempo de irremediável infelicidade. Mas, já se sabe, quando o amor é invocado os esquemas de inteligibilidade são outros, liças onde as questões do costume deixam de fazer o mesmo sentido. Quem descreve um sentimento ou uma relação socorrendo-se do ideário romântico -- o idioma da moda nos últimos séculos -- logo deve à coerência narrativa o imperativo de dar tudo por um amor. Tudo bem. O problema é outro: muitos há que, quando já não conseguem honestamente acreditar nesse amor, se obrigam a lutar; lutam aquele suficiente para poderem desistir com a consciência tranquila. Era por isso que a minha amiga lutava há muito, pela sua consciência. Uma consciência exigente. Ficou-lhe a dor e essa estranha paz: a paz romântica de ter dado mais do que podia.
5- Reli (com atenção) praticamente todo este blogue. Noto-lhe um certo travo de farsa, dado estarmos perante o desenvolver de um registo cujo capital central era exactamente uma forte implicação pessoal. Reli (com mais atenção ainda) praticamente os blogues que me acompanharam nessa ideia de uma co-dependência entre blogue e autor, ideia que o lastro da escrita sempre havia insinuado. Quase todos eles afrouxaram. Curiosamente, espera-se, a vida não. Entendo que o atractivo da história de um blogue se perca quando este começa a carecer da ideia de que cumpre um papel identitário importante como espaço para aleitamento de angústias, auto-depreciações, e reflexões biograficamente dotadas. Talvez por isso possamos dizer que nos conhecemos uns aos outros. Reli-vos. Como quem vê fotos de infância. Os arquivos arriscavam ser apreendidos por um renovado olhar onde a noção de ficção biograficamente informada deixava lugar para um sentimento retrospectivo de «farsa». Ou seja, para o intimismo resultar cabalmente é tão necessário que se perceba que o blogue depende de perto da vida e dos estados de espírito de quem o escreve, como necessária é a persuasão de que, em certa medida, o próprio autor depende do blogue como espaço para uma escrita pública não formatada, não constrangida do ponto de vista temático, com um intenso imperativo de estilo e com uma forte compleição narcísica. Palavra chave.
2- A rapariga não quis receber os dois cêntimos: “Deixe lá estar isso”, disse. Não foi generosidade que se ficou com o troco, percebeu-se pela voz lassa, foi uma desistência profunda de tudo. “Deixe lá estar isso”. Assim mesmo. Estávamos na pastelaria e ela tinha comprado um bolo cheio de creme e 2 pães. Só os solitários condoídos compram dois pães pela manhã. Se lhe entregassem o boletim premiado do euromilhões certamente diria «deixa lá estar isso» com a mesma indolência de alma com que um dia se deixou cair. Penso. Pedi um Ice Tea e esperei pelos poucos cêntimos de troco. Não por convicção, mas não quis deixar sinais de negligência para outros devolutos desta vida.
3- Cada vez mais me convenço que o obediente uso do português é recebido nas charcutarias como um momento de arrogância gramatical: «duzentos gramas de fiambre, se faz favor»
4- Há tempos um amiga minha contou-me que acabara com o namorado após uma relação de anos. Não aguentava mais. Demasiada exigência, demasiada pressão, demasiado conflito, demasiada incompatibilidade. A verdade é que a inevitabilidade desse desfecho era há muito exuberante. A única dúvida para mim, como para os demais conhecedores das danças do casal, estava em perceber como é que ela tinha aguentado tanto tempo de irremediável infelicidade. Mas, já se sabe, quando o amor é invocado os esquemas de inteligibilidade são outros, liças onde as questões do costume deixam de fazer o mesmo sentido. Quem descreve um sentimento ou uma relação socorrendo-se do ideário romântico -- o idioma da moda nos últimos séculos -- logo deve à coerência narrativa o imperativo de dar tudo por um amor. Tudo bem. O problema é outro: muitos há que, quando já não conseguem honestamente acreditar nesse amor, se obrigam a lutar; lutam aquele suficiente para poderem desistir com a consciência tranquila. Era por isso que a minha amiga lutava há muito, pela sua consciência. Uma consciência exigente. Ficou-lhe a dor e essa estranha paz: a paz romântica de ter dado mais do que podia.
5- Reli (com atenção) praticamente todo este blogue. Noto-lhe um certo travo de farsa, dado estarmos perante o desenvolver de um registo cujo capital central era exactamente uma forte implicação pessoal. Reli (com mais atenção ainda) praticamente os blogues que me acompanharam nessa ideia de uma co-dependência entre blogue e autor, ideia que o lastro da escrita sempre havia insinuado. Quase todos eles afrouxaram. Curiosamente, espera-se, a vida não. Entendo que o atractivo da história de um blogue se perca quando este começa a carecer da ideia de que cumpre um papel identitário importante como espaço para aleitamento de angústias, auto-depreciações, e reflexões biograficamente dotadas. Talvez por isso possamos dizer que nos conhecemos uns aos outros. Reli-vos. Como quem vê fotos de infância. Os arquivos arriscavam ser apreendidos por um renovado olhar onde a noção de ficção biograficamente informada deixava lugar para um sentimento retrospectivo de «farsa». Ou seja, para o intimismo resultar cabalmente é tão necessário que se perceba que o blogue depende de perto da vida e dos estados de espírito de quem o escreve, como necessária é a persuasão de que, em certa medida, o próprio autor depende do blogue como espaço para uma escrita pública não formatada, não constrangida do ponto de vista temático, com um intenso imperativo de estilo e com uma forte compleição narcísica. Palavra chave.
quinta-feira, novembro 15, 2012
terça-feira, fevereiro 28, 2012
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
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